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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Um Cappuccino Vermelho - Joel Gomes


Sinopse:
As pessoas que conhecem Ricardo Neves dividem-se em dois grupos: os que o conhecem como autor de policiais e os que o conhecem como assassino profissional.

Ricardo sempre cuidou para que estas duas facetas da sua vida não misturassem. Até ao dia em que recebe uma lista de alvos que está demasiado próxima do seu mundo de escritor.

A colisão parece inevitável e Ricardo não tem como a impedir.

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João Martins é um escritor com prazos para cumprir e sem ideias para desenvolver. Até que tem a ideia de escrever sobre um escritor que é também assassino profissional.

A surpresa acontece quando pessoas à sua volta começam a morrer tal e qual ele descreve no seu livro. A dúvida surge de imediato: estarão as mortes a acontecer porque ele as escreve ou será ele um mero narrador de eventos predestinados a acontecer?
 
Opinião:
Gosto histórias com a estrutura de 'caixinha', isto é, cuja intriga contém outras que por sua vez contém outras, por vezes de forma circular, de tal forma que às tantas damos por nós meio confusos, ou com um sorriso na cara a dizer "Ah, então é isto!" 
 
O texto de Joel Gomes tem uma dessas estruturas em que a história está dentro da história, que primeiro nos faz afirmar "Pois., já percebi" e no fim perguntar "Mas afinal..:?" Não é novo, já foi feito de muitas maneiras, mas isso não me impede de apreciar. Afina, tudo está feito por agora, é tudo uma questão de refazer. Neste caso, há um escritor assassino profissional, Ricardo, que é personagem dos livros de um escritor, João, que se vê envolvido nos crimes do seu livro, e que, por fim, parecer ser... Spoiler. Não digo. Esta estrutura e a linguagem dinâmica e facil de seguir são as principais virtudes deste livro, que vai ganhando um certo embalo conforme avança e um ritmo agradável. É interessante a forma como vamos mudando de ponto de vista - principalmente quando assumimos o de João, embora reduzisse a transcrição de partes do primeiro segmento do livro. Os diálogos, como o discurso em geral, são fluidos.
 
Nesse caso, porque é que eu não gostei mais deste livro?
 
Porque a história se apresenta como um policial, a personagem é assassino profissional, e há mortes, a polícia etc, e, como policial, parece-me faltar-lhe algum suspense. Muita rotina, pouco dos crimes. A resolução é precipitada, 'despejando' a responsabilidade sobre personagens que, até aí, mal tinham sido envolvidas, com uma explicação que não me satisfez. Preferia não ter tido nenhuma, nem as cenas do tribunal, e ficaria com um livro sobre a escrita de um livro e a construção das suas personagens.
 
Também tive alguma dificuldade em perceber o funcionamento e motivações das personagens, principalmente Ricardo - quer ele seja a personagem ou o escritor, a estrutura do livro, que o segue, para mim precisava que ele fosse dado a conhecer mais a fundo, não o que ele faz ou come ou quem ou o que detesta, etc, mas as razões. De onde vem e para onde vai, como chegou ali. Faltou-lhe qualquer coisa. E, como disse, tive dificuldade com a apresentação, por vezes detalhada, da sua rotina, e quase nenhuma dos aspectos mais interessantes, como é que ele prepara os seus 'trabalhos', por exemplo. Gostava de os ter seguido com mais pormenor, em vez de conhecer o conteúdo e tempo de preparação das pizzas de micro-ondas que come.
 
A história, que tem uma premissa interessante e uma escrita sólida e, do meu ponto de vista, adequada ao proposto, por ser 'nua', bastante fria - há apenas um ou outro pormenor, coisas mínimas que uma revisão resolveria em três pernadas -  ms alguns problemas de equílibrio, tanto nas personagens como no desenvolvimento da história e na sua conclusão... a dos crimes, não a final. E agora perguntam-me: mas são diferentes?
 
 
 

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