Lisboa, 1940
Lisboa
mantivera-se até aí à sombra desse desespero, no limiar da guerra sem
participar efectivamente nela, mas nunca suficientemente longe para a
segurança. Por ora, transformara‑se num formigueiro de gente diferente,
fugitivos à procura de uma segurança precária, de uma pausa no horror, de um
caminho para outro lado qualquer. Gente com o medo de não haver amanhã bem
enraizado na alma. Carmo, na sua rotina de jovem burguesinha, talvez não se
tivesse apercebido, mas o medo ainda fresco e a alegria efeverscente de quem
escapara por pouco da morte eram uma mistura explosiva, que impregnava a capital
de uma pulsação intensa, com que Lisboa não estava familiarizada e a que não
sabia reagir. Carmo era ingénua, facilmente se deixaria conduzir por ela, pelo
desejo de viver no limite. Deus sabia como o afectava a ele.
A Chama ao Vento (em revisão)
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