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sábado, 14 de dezembro de 2013

Across the Universe - Beth Revis

Fiquei curiosa acerca deste livro YA de ficção científica ao ler a opinião de outra leitora, já não me recordo quem. Li-o quase de imediato, depois de o ter comprado para o kindle, mas andei algum tempo a mastigar a opinião, tanto pelo excesso de trabalho, como porque precisei de pensar no que me agradava e no que me desapontou não.

O preceito sobre o qual o livro assenta é interessante: uma viagem de descoberta e através do Universo e colonização de outro planeta, muito ao jeito das Descobertas, que levaria 250 anos a completar, obrigando a "armazenar" na nave duas populações diferentes. Na nave, seguem os que realizam a viagem, geração após geração, conduzindo a nave, sempre à espera de chegar, e um conjunto ainda largo de "pessoas úteis", cientistas e outros, que vai preservado através da criogenação, para colonizar o planeta à chegada. 

A estrutura também é interessante: vamos acompanhando o desenrolar da história alternando, capítulo a capítulo, entre dois pontos de vista - ambos na primeira pessoa - o de Amy, uma rapariga "criogenada" que acorda cedo demais (não conto pormenores, não quero fazer SPOILER) e de Elder, o rapaz que está destinado a ser o próximo lider da nave. São ambos jovens, de idade desfasada dos restantes... podem imaginar.

Muitas coisas aconteceram a bordo entre o primeiro capítulo, em que Amy é colocada na solução de criogenação, e o segundo, em que surge Elder, 200 anos mais tarde. Criou-se uma estrutura social que vamos descobrindo aos poucos, com base na uniformização e categorização, com problemas que também nos vão sendo revelados aos poucos.  Está bem pensado, gera curiosidade e não encontrei nenhum grande "buraco", nem no princípio, nem nas consequências da longa viagem na estrutura a bordo, pelo menos para quem não tem verdadeiros conhecimentos científicos ou de psicologia. Que me desculpe quem tiver e encontrar N falhas neste livro.  

Aos poucos, a história foi-me lembrando duas que li anteriormente. Uma delas é possível que a autora não conheça. A outra não. A primeira é Inside Out de Maria Snyder, que é recente, promete no primeiro livro e atraiçoa no segundo, sobre uma viagem destes, através do universo, numa nave cuja estrutura social se tornou deturpada. O outro livro, bem mais importante, é Brave New World, de Aldous Huxley, um dos meus favoritos. Há em Across the Universe questões de organização social, manipulação genética, domínio através de drogas, controle da sexualidade, perspectiva face ao envelhecimento e morte, etc, que a autora pode muito bem ter ido beber a Huxley. Encontram-se tratadas de forma diferente, com preocupações próprias de um espaço com um número limitado de seres (por exemplo, a da consanguineidade e como contorná-la) e menos enfase no condicionamento pavloviano, que em BNW reforça, com grande relevância, a manipulação genética. 

Gostei, evidentemente, deste aspecto, ainda que tratado de forma muito menos densa do que esse meu livro favorito, e da maioria das premissas da história. O problema para mim foi esperar, talvez pela narrativa na primeira pessoa, uma ligação às personagens que não aconteceu. Mesmo sendo ambos adolescentes, e ainda que lhes conheça pensamentos, sentimentos e hesitações, fui seguindo os seus esforços e desaires sem, na verdade, cheguar a importar-me com o seu destino. Mesmo sendo um livro de FC, faltou-lhe alguma emotividade, tendo em conta o POV e a situação especifica. My heart didn't bleed for them... Houve ainda algo na solução do mistério (uma espécie de policial) que falhou, uma improbabilidade na solução que me confundiu, quando o resto me pareceu bem pensado. Não posso falar dela sem SPOILER, mas tive pena. 

No conjunto, gostei. Se vou ler o seguinte? Provavelmente, mas sem pressa.




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