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quinta-feira, 3 de julho de 2014

A saída do faroleiro

Já não tenho medo,
fugiu-me
numa vaga.
É criatura fraca,
coisa de nada 
contra os monstros de água
no promontório.
As paredes desta torre
estremecem como donzela
em conto de fadas
e acho que gemem de dor
as fundações.
Açoita-as o sal deste mar
feroz,
hoje talvez se despedacem.
Quantos anos resistiu
comigo no bojo,
quantos anos de luz no vazio perigoso
da noite no cabo.

No estertor sonoro  aquieto-me,
compreendo,
nesta guerra sem vencedores
o derrotado sou eu.
Morro no remoinho
que me acorrenta o coração.
Saio como quero.
Ato-me à lâmpada que ainda rompe
este horizonte de fúria.
Sou Ulisses
Deixo vir a sereia lamber-me os pés
Engolir-me os joelhos,
Trepar pelo tremer das coxas 
devorar-me o peito
e quando me beijar na boca
ofereço-lhe
o último fôlego
e vou.
E se a pedra persistir
onde eu rendi o corpo e alma,
hão de encontrar-me aqui
gravado nela.

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