Desde que este livro saiu - como primeiro
livro RTP - que estava nas minhas intenções lê-lo. Já tinha lido os outros da
Célia e conheço bem, portanto, o seu potencial e qualidade.
Comecei-o em Dezembro, depois de o meu
Cavalheiro ter sido o último dos livros RTP do ano... sim, em Dezembro, leram
bem. Há uma eternidade. Comecei-o com grandes reticências, por me encontrar
numa espécie de "seca" de leitura e escrita e pressentir que qualquer leitura corria o risco de arrastar-se
e até de ser prejudicada pela minha falta de ânimo. Tinha razão. Eu, que aprecio
sempre melhor um livro quando o leio de rajada, porque me envolvo mais, acabei
por levar mais de 3 meses, o que não se justifica nem pela extensão do livro,
embora seja extenso, nem pela escrita, que não é pesada nem aborrecida. Durante
esse período, também não li praticamente mais nada... Recentemente recuperei o
embalo e pronto, terminei-o!
A pesquisa da vertente histórica - falamos
das invasões francesas - parece-me excelente, e o livro está integrado na
época de forma suficientemente subtil e exacta para não nos acharmos a
receber uma lição de história, mas para sentirmos de facto a época. Somos
imersos nela, em vez de nos ser estendida numa bandeja e explicada à exaustão,
o que me agrada e procuro também para os meus livros. A história encontra-se
muito bem inserida na História e podemos, com certa facilidade, imaginar como
estes acontecimentos pessoais, estas histórias de amores e desamores, traições
e lealdades poderia ter decorrido neste período. O enredo é bastante conturbado
neste sentido, há várias traições e suas consequências, mas não vou adiantar-me
por aqui, para não estragar nenhuma leitura.
As personagens têm caracteristícas
bastante vincadas, o que faz com que a empatia com elas seja bastante variável.
D. Sofia é difícil, o que é propositado, mas gostei mais de Daniel, por
exemplo, do que de Mariana... e gostei bastante de Isabel, que, nas suas
fragilidades, me pareceu ainda assim bastante digna e equilibrada. As acções de
cada personagem e as suas curvas de crescimento na história são coerentes
e naturais, conduzidas pelos acontecimentos e experiências de cada uma. Nada é
preto e branco nelas, não há bem nem mal, há uma vasta área cinzenta em que,
como na vida, as personagens se movem, e, porque são humanas, erram tanto
quanto acertam. Isso é bom, porque é assim que se vive. Percebem-se as suas
motivações, mesmo quando nem tudo o que fazem ou dizem agrada.
A escrita da Célia está, como deve
acontecer, mais sólida e apurada, notando-se o cuidado de adequá-la à narrativa
histórica. É bonita e, sem ser simplista, despe-se das complexidades que
poderiam tornar fastidiosa e difícil esta leitura tão longa e datalhada. Destaco dois momentos muito diferentes no
enredo, um mais íntimo, outro histórico: D.Sofia com Mariana e a sua tesoura e
ataque dos franceses ao Porto, a minha cena favorita de todo o
livro. Está muito bem descrita, ilustrativa sem se perderem nem a narrativa, nem a personagens. Muito boa,
É, em súmula, um óptimo romance histórico,
bem construído e muito interessante, que promete uma bela continuação. Não dou os parabéns à Célia, porque não precisa deles, sabe decerto que tem aqui um belo livro. Devia tê-lo lido numa fase diferente da minha vida de leitora, e nisso, peço as minhas
desculpas à autora, não só porque merecia uma leitura mais rápida e intensa, que
é, afinal, como leio melhor e com mais prazer, mas também por saber que as leituras paradas não são agradáveis para o autor.
Sei que há uma continuação (que
o fim pede, sem dúvida) e eu quero lê-la... e prometo só o fazer em bom momento, para não voltar a demorar tanto tempo.
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