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domingo, 2 de agosto de 2015

Barcelona

Deixei passar uns dias, para ver o que ficava dos dias de férias. Fica isto.

Há anos que alimentava um desejo nada secreto de conhecer Barcelona, alimentado pela admiração, primeiro pelas loucas arquitecturas de Gaudi, depois pela leitura de Zafon. Não sei o que esperava, porque não gosto de me antecipar e ficar desapontada. Adoro Toledo, que é medieval. Acho que era o que esperava, adorar Barcelona.

Ficamos instalados no Barrio Gótico, o que é um bom princípio, embora a rua fosse tão estreita, a entrada do prédio tão pequena - a porta mais pequena da rua! - e as escadas para o 3º andar bem remodelado tão esconsas, que a minha cabeça revertia constantemente para incêndios e outras situações improváveis, em que ficariamos irremediavelmente encurralados. Consegui controlar o pavor e dormir alguma coisa e, de facto, tinha a enorme vantagem de estar mesmo no centro,  junto à Plaça de Catalunya. (não é a rua que se vê na imagem, mas é praticamente igual). A chegada foi terrível, a um Sábado, sem sabermos bem onde era a casa ou onde deixar o carro, e com um trânsito horrendo... Apesar de um jantar maravilhoso, só no dia seguinte pude sentir que era capaz de usufruir da cidade!
O centro não é grande e o resto, do pouco que vi, pareceu-me desinteressante, mas ainda assim andei quilómetros em quatro dias, como acontece sempre nestas circunstâncias, a tentar cobrir o mais possível dos "pontos de interesse" da cidade.  Andamos pelas ruas e vielas fantásticas do Bairro Gótico e fomos ao Museu do Picasso. Vimos as casa Batlló e La Pedrera. Descemos as Ramblas (mais do que vez) e estivemos junto ao mar. Comemos tapas nos Mercados. Metemo-nos no carro uma vez apenas, para ir à Sagrada Família - fantástica mas integrada, ou talvez deva dizer "entalada", num espaço estranhamente... vulgar - e ao Parque Guell, e mesmo assim andamos muitíssimo. Vestimo-nos a preceito (nada de pernas ou ombros de fora) para nos permitirem entrar na Catedral. Já esperava as dores nos pés, nas pernas, cansaço e tudo o que lhe está associado, mas também esperava e desejei a todo o momento apaixonar-me pela cidade, que tem aquilo de que preciso para adorá-la: os bairros antigos, a arquitectura fantástica, o movimento. No entanto, ao contrário de Londres e Roma, o amor não aconteceu. 


Creio que a cidade está demasiado cheia. Devia estar calada, porque fui tão turista como os demais, mas chega a ser aflitiva a quantidade de gente. Nas Ramblas (aqui na foto, que não é nossa mas podia ser) há pontos em que mal se consegue passar. Nem sempre há mesas nas esplanadas, que seriam maravilhosas, se não explorassem o turista. 

O que me leva ao segundo ponto: é um excesso. Os preços são um excesso e tudo, mas tudo se paga, e bem. Não são só os cafés, refrescos e águas, sem os quais se destila e para os quais paramos muitas vezes (tantas cañas, água, sumo e cola!). Paga-se a entrada em todo o lado, as casas do Gaudi, os museus, as igrejas, tudo. Chega ao ridículo de, na Catedral, se pagar entre as horas X e Y, quando noutras horas é de graça. No Parque Guell, a zona de maior interesse - a dos monumentos  - está vedada e também se paga. Não estamos a falar de 3 ou 4 euros, mas de valores entre os 8 e os 25 euros por pessoa.  Somos 4. 

Claro que sei que a conservação dos lugares e da cidade tem de pagar-se, mas senti, em muitos momentos, que a Barcelona fascinante que esperava se tinha rendido ao comércio, o que a faz muito menos fascinante. Fico com a impressão de que, mais cedo ou mais tarde, vedam as Ramblas e cobram para poder descê-las, e mesmo assim hão de estar tão cheias que mal se consegue caminhar. Talvez a sensação fosse diferente se tivesse conhecido a cidade no Inverno, sem as enchentes, e com tempo, para poder respirá-la, poder estar o tempo que quiser onde quiser, sem pensar no que vou "ver" a seguir ou se já estive em todos os lugares que um turista deve conhecer. Descobri isso pouco me importa, do que gosto é de sentir o lugar. Absorvê-lo, o que é impossível quando se veste a pele do turista comum, numa correria para ver mais e mais, todos os espaços cheínhos de gente. 

Fica um certo receio de ter morrido o meu desejo de ser turista (que outra coisa posso ser?) e o reconhecimento de que esta é uma cidade interessante, bela e soturna, capaz de exercer fascínio... mas sem o fascínio. Talvez tenha que regressar, com outro espírito... meu ou dela.

3 comentários:

Márcia Balsas disse...

Fui em Novembro. Foi maravilhoso. Barcelona há-de ser sempre dos meus locais favoritos.

Carla M. Soares disse...

Acredito que Novembro seja uma opção bem melhor do que Julho, mas infelizmente é impossível para mim. Sendo professora, as minhas férias são imitadas a certas épocas, o que me obriga às enchentes. Creio que foi isso mesmo que me "estragou" a experiência Barcelona...

Achei a cidade linda. A zona do Bairro Gótico tem tudo para me agradar, tudo, mas ainda assim a recordação é agridoce, com uma corda de irritação que me bloqueia o fascínio que esperava. Não sei explicar e fico triste.

Cristina Torrão disse...

Barcelona, por acaso, não me atrai, embora tenha lido "A Sombra do Vento" e gostado. Mas não me convenceu a ir visitar a cidade.