Páginas

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

se o dia fosse bom

Isto podia ser sobre o Trump, não é? O tal que fez a Europa acordar de boca aberta e em choque, mesmo que Hillary Clinton também não fosse uma boa candidata. Não era. Não era. Mas ele é pior. 

Entendo que foi a escolha fora-do-sistema dos americanos que se sentiram abandonados pelos seus políticos. Infelizmente, não me surpreende que esta maioria que o elegeu se iluda, pensando que um businessman americano se preocupará com as suas dificuldades. Preocupa-me muito que essa escolha ignore ou aprove o discurso xonofóbo, racista, homofóbico, misógeno do novo presidente... Preocupa-me a sua falta de experiência, a sua completa inabilidade diplomática, a sua convição, tão americana, que a razão estará sempre do lado americano, porque os USA são o umbigo do mundo . 

Mas este título não é sobre a eleição de Trump. Este é apenas o título de um poema que aqui anda há dias, por publicar. E não tem mesmo nada nada nada nada a ver com os americanos. Cá fica. 


Ele tinha uma ideia clara
do que havia de ser entre os dois
de como se encontrariam ao acaso
numa rua qualquer
tomariam juntos um café
era sempre a segurança do café
e enquanto mentiam
sobre os caminhos que levara a vida
cada um deles estaria inteiro
por uma hora ou duas
ele havia de pensar noutro prazer
ela ler-lho-ia no olhar
ou num gesto mais lento
e se o dia fosse bom
se o dia fosse inesperado
acabariam os dois na sua cama
ela saberia a whisky, ele também
ela teria a pele quente
ele não se cansaria
e quando o lugar vagasse sem retorno
se o dia fosse bom
se o dia fosse inesperadamente bom
não viria a sombra da noite
preenchê-lo de vazios
tinham frios ângulos os vazios
sobretudo os nocturnos
Era estranho como uma casa
com sofá, tapetes e tantos livros
se aguçava assim até rasgar

Sem comentários: